A imagem que ilustra esse post foi feita pela minha filha Julia, de 9 anos. Eu pedi que me retratasse em meus momentos de cansaço. Risadas à parte, ela mostra muito bem não só a aparencia mas nossos sentimentos nessas horas. E esse blog trata justamente dessa realidade que é um misto de alegrias, conquistas, lágrimas e suor, mas também de muito amor, perseverança e orgulho. Das imperfeições do teclado que não funciona como deveria porque a filha derrubou suco de laranja no notebook enquanto voce dava a janta e estudava para pós (perdoem a ausencia de acentos e eventuais erros, não é proposital, é a falta de verba para adquirir um novo, de tempo para escrever esse blog e corrigir as falhas pois afinal eu sou mãe solo e tenho mil pratos para equilibrar ao mesmo tempo), o formato pré-definido de uma plataforma digital sem ainda tantas personalizações para dar aquele toque especial, àquela vontade imensa de compartilhar esse universo interno incentivada pela terapeuta com a desculpa de "começar mesmo com erros e defeitos e progredir ao longo do caminho" porque simplesmente se a gente espera pelo momento certo ele nunca chega. E´antes de tudo a síntese de nossa rotina que tenta se equilibrar entre o caos, o bom-humor, as coisas por fazer, o que temos a mão, nossos jeitos de ser e o amor imenso que nos une.
A trajetória é longa, com milhões de histórias que eu espero poder dividir com voces e todo o aprendizado adquirido até aqui e, quem sabe, agregar novos conhecimentos. Vamos juntas?
Sou mãe solo há quase 8 anos e nesse meio tempo eu tenho sobrevivido mais do que vivido propriamente. Neste exato momento, atravessamos a pandemia de coronavírus, terrível o suficiente para fazer o mundo parar a ponto de eu conseguir iniciar este blog. Um sonho tão antigo quanto parecia distante de ser alcançado pela eterna falta de tempo e disposição de quem está sempre trabalhando cada minuto seja para ganhar um trocado suado, seja para dar conta dos afazeres domésticos ou de criar a filha para se tornar um ser humano decente. Tarefa difícil quando os boletos não dão trégua e o salário é literalmente mínimo. Nasce um bebe e junto dele uma mãe cansada.
Cansada dos eternos conselhos que eu nunca pedi, das exigencias de uma sociedade que sequer me enxerga como indivíduo, das incoerencias de um mundo que glorifica mães desde que não sejamos humanas. Da necessidade de ser multi-tarefa quando as vezes a gente só quer sentar no sofá ou ir ao banheiro sem companhia, de não ter que almoçar pensando no cardápio da janta, de saborear uma conquista profissional sem estar com um pano de limpeza nas mãos. Mas não me interpretem mal, a maternidade em si não é o problema, aliás é ela que me salva todos os dias da amargura do mundo. A questão é como nós mulheres somos vistas dentro da sociedade, em especial depois que nos tornamos mães. E o quanto isso tem nos impedido de realizar sonhos e colocado obstáculos desnecessários em nossos caminhos, se simplesmente houvesse maior consciencia das pessoas e uma mudança de paradigmas. Simples mas nem um pouco fácil de promover, e é por acreditar que precisamos melhorar nossos canais de diálogo e enriquecer a discussão sobre essas questões que decidi trazer minhas inquietações e pensamentos. Até porque, eu acredito muito que elas não pertencem apenas a mim.
Meu cansaço nasce, portanto, da sobrecarga de tarefas, da maneira engessada de ver e de viver as coisas, da falta de perspectivas de mudança. Porque eu sempre escuto das pessoas que "ah ser mãe é assim mesmo, desde que o mundo é mundo". E se tem algo que esse momento de pandemia tem trazido, é a pausa que há muito temos pedido para reavaliar nossos estilos de vida e o que desejamos para o nosso futuro. De buscar soluções não apenas para a pandemia, que escancarou todos os problemas sociais que sempre fingimos não existir ou que pelo menos não eram tão importantes a ponto de merecerem atenção, e tornar essas soluções em permanentes e duradouros benefícios para os que mais necessitam para que alcancem autonomia e bem-estar como todo ser humano merece ter. Inclusive nós mesmos e as mães. Mulheres antes de sermos mães. Seres humanos antes de sermos mulheres. Eu espero poder contar com a companhia de voces nessa jornada. Mesmo sem os acentos nas vogais, as cores nas ilustrações, o acabamento por fazer. A construção vai ser diária, assim como nossas identidades. A imperfeição nos lembra que há muito o que buscar e ter um objetivo nos ajuda a manter o foco em um hoje mais positivo e um amanhã com mais esperança. Para quem sofre de depressão como eu, que vive um dia de cada vez, acreditem isso já é um pequeno enorme milagre. Nos vemos aqui, combinado? Depois me contem quais são seus planos, como voces mantem acesa a luz dentro de voces, seus sonhos... Juntas somos mais fortes.