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Para que servem as crises?

Atualizado: 27 de jan. de 2021


Longe de mim romantizar a pandemia, com toda a tragédia de mortos e doentes e os efeitos economicos não há que se agradecer por ela. Mas a reflexão se faz necessária, até para entendermos como chegamos até aqui para não repetirmos os mesmos erros. Eu já passei por inúmeras crises ao longo da minha vida, da morte prematura do meu pai por um cancer, a mudança de país, um divórcio e a maternidade solo, e o que eu posso dizer disso tudo é que cada uma delas me trouxe muitas lições que me ajudaram a construir a pessoa que sou hoje.

Não se trata aqui de querer explorar a tragédia como oportunidade como os adeptos do empreendedorismo defendem, mas de compreender que se não usarmos isso para crescermos, para nos obrigar a sairmos de nossas zonas de conforto e expandir nossa visão de mundo e consciencia, a probabilidade de nos deixar arrastar para um poço sem fundo de sofrimento e dor é muito grande. E isso não é bom pra ninguém.


Como eu disse em meu último post, a forma como cada um lida com isso é muito particular, não existe uma receita mágica que funcione para todos. O importante é que ao final desse processo, sejamos todos capazes de refletir e internalizar esse processo para que entremos em um estágio de busca de soluções e mudanças efetivas em nossas vidas e nos impactos que causamos a nossa volta. Não apenas para este momento em si, mas de forma duradoura e capaz de incorporar os novos desafios que surgirão daqui por diante. Diferente da demanda constante por produtividade, em que se praticamente condena quem não está aprendendo um novo idioma ou executando mil projetos em plena pandemia, a minha proposta é de que se mude o foco de um efeito paralisante fruto do stress e do medo a que estamos todos expostos em maior ou menor grau, para um estágio mais positivo e capaz de realizar ações que mudem esse paradigma de culpa e cobrança, por um que promova verdadeiro bem-estar.


Deixando de lado teorias conspiratórias sobre o surgimento e a disseminação do vírus, rechaçado por vários estudos sérios sobre o vírus, o fato é que a pandemia surgiu da interferencia agressiva da ação humana sobre o meio ambiente, desde a mercantilização de espécies selvagens de animais ao seu consumo, passando pela redução da variedade das espécies animais presentes no ecossistema. Aliado a isso, temos os fluxos migratórios ao redor do globo, sejam eles dentro ou fora dos países, em que o deslocamento das pessoas sem se atentar para os riscos de disseminação de doenças por parte dos governos serviu de pulverizador potente da pandemia, muito embora já houvesse conhecimento de uma crise iminente e vários alertas por parte de cientistas e estudiosos. Socialmente falando, a pandemia expos de forma visceral, os efeitos brutais da desigualdade social e da vulnerabilidade das minorias de grupos populacionais, colocando em xeque teorias de meritocracia e dos benefícios de políticas neoliberais em detrimento dos direitos humanos universais, dentre eles o acesso a saúde e de proteção trabalhista.


De repente, pautas de sustentabilidade, estudos sociais e cuidados com a saúde se tornaram mais em evidencia do que nunca, mostrando que a sociedade precisa se atentar para a forma como tem vivido até então. Do stress atingindo níveis alarmantes na população trabalhadora ao movimento contrário de pessoas que abandonam tudo para viajarem o mundo, como encontrar o equilíbrio entre a realidade e aquilo que de fato a maioria de nós pode fazer para melhorar nossa vida, e aquilo que sonhamos através de blogs e perfis de redes sociais com suas fotos de tirar o folego e seus relatos extraordinarios de um paraíso exótico?


A verdade é que muitos de nós quermos fugir da realidade crua que se apresenta diante de nós, seja pela janela dos nossos carros, do transporte público ou de nossos locais de trabalho. Muitos já optaram por fechar suas cortinas ou desviar o olhar da paisagem que tanto queremos evitar, enquanto se anestesia como pode com memes engraçados ou vídeos de YouTube, mas aquele incomodo de não se estar vivendo a vida que deseja fica ali, latente, presente no consumismo exagerado, na alimentação pouco saudável, nas horas de sono perdidas nos vícios que desenvolvemos, na impaciencia com a família. E assim seguimos, aos trancos e barrancos, aceitando isso como o "normal", porque dizem, o mundo é assim. Sempre foi. Pois é chegada a hora de nos perguntar se ele deve continuar sendo assim. Eu acredito que, independente da orientação política de cada um, somos unanimes em dizer que está mais do que na hora de mudar.


Hora de arregaçar as mangas


Pensando nisso, conversando com uma amiga muito querida, vegana, nos propusemos tarefas de casa pra fazermos. Isso mesmo! Mais do que um desafio, nos demos atividades pra fazermos sobre como cada uma de nós podemos iniciar essas pequenas grandes mudanças. Eu iria assistir a um documentário chamado "What the health", e depois iria escrever aqui no blog minhas impressões. Enquanto isso, ela faria um vídeo piloto sobre uma receita vegana. Qual o propósito disso? Bom, já há algum tempo eu venho ensaiando mudanças na minha alimentação. Desde incluir frutas, vegetais e carnes organicas livres de pesticidas e hormonios, a introdução de pratos veganos no meu cotidiano. Mas muitas vezes esbarramos na falta de hábito e no desconhecimento como barreiras para promover as mudanças necessárias. Nesse sentido, ter alguém te incentivando é fundamental para concretizar esses planos e tirá-los do mundo das idéias. Eu confesso que pra mim é muito difícil imaginar uma substituição por completo da minha alimentação, mas se tem algo que a vida tem me ensinado, é que mais vale uma mudança gradual e realista, com efeitos duradouros e práticos, do que um cavalo-de-pau radical que não se sustenta por muito tempo. Por isso, minha meta é procurar reduzir ao máximo meu consumo de derivados animais dentro daquilo que é possível para mim. Com uma criança em casa, é muito difícil criá-la com muitas restrições alimentares, tendo em vista que ela come a merenda escolar e eu também acredito que ela deva ter a liberdade de fazer suas próprias escolhas no momento em que ela tiver maturidade e autonomia suficiente para tal. Por isso, manter a alimentação o mais diversificada possível é, para mim, uma necessidade. O que não invalida meus esforços para reduzir nosso consumo pelo menos dentro de casa. Educar-nos para procurar substitutos veganos já é um passo importante para trazer mais consciencia e luz sobre essa questão, que envolve inúmeras outras como o documentário que minha amiga me indicou, seja sobre os direitos humanos e dos animais. Ao mesmo tempo, para minha amiga, criar conteúdo seria uma forma de promover não só um ideal em que ela acredita como também uma plataforma para que ela, se assim desejar um dia, retomar seu projeto de trabalhar com isso com inúmeras possibilidades.


Por outro lado, tenho me empenhado para estudar sobre alternativas de consumo sustentáveis, com menor produção de lixo e maiores benefícios para a saúde, o que significa reduzir o consumo de produtos descartáveis. Uma das minhas propostas é fazer uso dos absorventes de pano, assunto que pretendo abordar com mais detalhes em um próximo post, até pra gerar uma renda extra aqui em casa (uma vez que como trabalhadora do setor de turismo, tenho sentido muito o seu impacto nessa pandemia). E se é hora de buscarmos soluções, que elas sejam para trazer mudanças positivas e mais do que nunca necessárias para o mundo. Eu sei, muitas irão torcer o nariz para a minha proposta, que é cercada de tabus e preconceitos sobre a nossa menstruação desde que o mundo é mundo. Mas como poderemos mudar se não mantivermos nossa mente e nosso coração abertos para novas propostas? E antes que voces considerem isso um retrocesso, deixem-me adiantar que nem de longe estou falando em retroceder. Muito pelo contrário, estou falando de alta tecnologia aliada a sabedoria de nossos antepassados, que é exatamente o que esse momento exige de nós. Todo o conforto que o mundo moderno prometeu nos entregar trouxe consigo uma devastação ambiental inconsequente e da qual estamos colhendo os frutos com essa pandemia. Então eu só peço que cada um reflita sobre sua responsabilidade nisso tudo e as soluções que podemos desenvolver e por em prática.


De repente voce pode descobrir que viajar o mundo pode não ser assim o único caminho para sua jornada de crescimento pessoal e que transformar o seu universo interno pode ser ainda mais desafiador do que exibir um passaporte cheio de carimbos. Que deixar de consumir de grandes marcas para valorizar o pequeno mercado do bairro, aquela artesã ou alfaiate, ou até aprender a fazer voce mesma e descobrir um novo hobby e interesses pode ser muito mais benéfico do que ter uma casa entulhada de roupas e coisas que voce sequer lembra que comprou. Investir na sua própria horta, desenvolver brinquedos e atividades com as crianças, enfim, são tantas as possibilidades. Que tal investir mais tempo estudando e explorando isso? O que voce tem a perder?

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