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Sobrevivendo em tempos de pandemia

Atualizado: 27 de jan. de 2021

"Lá vem mais um texto sobre pandemia!" Calma, não vim aqui passar receita de bolo nem os 10 passos pra alcançar o Nirvana em plena pandemia. Vim só dizer que está tudo bem cada um lidar com isso como acha que deve: lendo, se exercitando, meditando, cozinhando, fazendo nada. Se exigir produtivo nesse momento é mais um sintoma do quanto estamos doentes pela obsessão constante imposta pelo estilo de vida moderno de estarmos sempre ocupados, produzindo. Quem tem se permitido o ócio ou o lazer já tem percebido os efeitos positivos disso. A disposição aumenta, a tolerancia, a criatividade. E no fim, sem querer, acabamos mais... produtivos! Parece incoerente? De forma alguma.


Todos nós temos um ponto de exaustão não apenas físico mas também mental e psicológico, que quando atingido afeta profundamente nossa capacidade de realizar algo. Ficamos mais propensos a cometer erros e sofrer acidentes, negligenciar coisas importantes, esquecemos as coisas com mais facilidade, tornamo-nos mais irritadiços e impacientes, predispondo discussões e desentendimentos. E estar diante de uma pandemia com certeza não ajuda muito. Pelo contrário, chegamos ao tal ponto mais rápido e de forma mais severa.


Então nesse momento, tudo o que podemos fazer é sermos sinceros conosco e com as pessoas ao nosso redor, diminuir as expectativas e a tensão, afrouxar as exigencias e respirar. Isso não significa se afundar em um mar de marasmo, tédio, inércia. E´ fazer o que te traz bem-estar, alegria, satisfação. E pra isso não existe receita pronta.




Mas se há algo que todos podemos fazer e não traz malefício algum, é procurar estreitar as relações dentro de casa. Muitas vezes estamos por demais ocupados dividindo nossa atenção com milhões de coisas para prestarmos atenção no que acontece bem diante de nossos olhos. E´ claro que muita gente está enlouquecendo com o home office, os filhos em casa, as preocupações com os efeitos da crise (eu mesma não sei quando e se voltarei a trabalhar), em arranjar fontes de renda alternativa pois não há ajuda do governo que de conta das nossas necessidades, mas agora que estamos sendo forçados a ficar em casa a hora é de nos darmos as mãos porque sem essa união dificilmente iremos passar por isso.


Isso significa sentar para conversar nas horas vagas, ouvir o que o outro tem a dizer, buscar soluções juntos. E aqui entra mais uma coisa que eu gostaria de compartilhar com voces: soluções. Crises escancaram os problemas que normalmente varremos para baixo do tapete e são o momento perfeito para criar soluções, encarar de frente tudo aquilo que deixamos para depois e se acumulam como bolas de neve. Não podemos nos deixar engolir nem atropelar por elas e dar um "jeitinho" não é mais possível. E o mais importante: que essas soluções não sejam apenas temporárias mas que permitam benefícios duradouros e de efeitos a curto e longo prazo.


E´ preciso para isso que a gente reflita nas causas que nos trouxeram até aqui, teorias conspiratórias a parte que nunca poderemos provar, o fato é que a degradação ambiental, a forma como a sociedade se estruturou em torno da construção de privilégios e a dependencia direta de uma cadeia de consumo nociva para manter esse sistema são inegáveis na construção desse cenário caótico que estamos vivendo. E é dever de todos refletirmos se é pra essa realidade que queremos voltar ou se de fato vamos mudar e fazer diferente com medidas e atitudes mais sustentáveis. "Loucura é achar que vamos obter resultados diferentes repetindo os mesmos erros".


Assim, depois que todos tivermos passado pelo nosso período de relaxamento, de recolhimento e de reflexão, espero que possamos entrar em uma fase criativa e positiva de geração de soluções e de transformações em nosso meio e como nos relacionamos com ele. Os atritos aconteceem e fazem parte do processo, apenas não podemos permitir que eles se tornem o fim dele nem que o desgaste provocado por eles seja maior do que nossa vontade de fazer dar certo. Vivemos em sociedade e dependemos uns dos outros. Ninguém reune todos os conhecimentos e instrumentos necessários para faze-lo sozinho. Entender que cada um ocupa o seu espaço a sua maneira e tem o seu papel nesse mecanismo torna tudo mais razoável e capaz de ser superado por um bem comum. Mais do que sobreviver a crise precisamos nos fortalecer para o que vem depois dela, em um cenário não muito otimista nem bonito das suas consequencias. E se estivermos todos exauridos, no momento em que mais precisaremos de força para nos refazer, estaremos ainda recolhendo pedaços nos quais nos partimos pelo caminho. Eu sei que falar é mais fácil do que fazer, por isso eu preciso de voce, e assim por diante. Vamos juntos?









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